Entenda por que piloto despejou combustível e deu voltas com avião que teve problema ao decolar do Recife para Madri
Aeronave passou quase duas horas dando voltas sobre oceano para queimar combustível e garantir pouso seguro de volta à capital pernambucana. Passageiros filma...

Aeronave passou quase duas horas dando voltas sobre oceano para queimar combustível e garantir pouso seguro de volta à capital pernambucana. Passageiros filmam avião descartando combustível e barulho em voo do Recife para Madri Vídeos feitos por passageiros mostram descarte de combustível pelo avião que apresentou falha durante decolagem do voo inaugural da Azul Linhas Aéreas entre o Recife e Madri na noite da terça-feira (10). A aeronave passou quase duas horas dando voltas sobre o oceano para queimar combustível e garantir pouso seguro de volta à capital pernambucana. 📲 Siga o perfil do Bom Dia PE no Instagram Mas, afinal, por que é preciso pousar com menos combustível em casos como esse? De acordo com o instrutor de voo Ralph de Carvalho Ramos, tanto a queima de combustível quanto o descarte são previstos e fazem parte do procedimento quando um avião apresenta problema após decolar. Isso ocorre, principalmente, para preservar a estrutura da aeronave — que custa milhões de reais. "Jamais um avião vai pousar com o mesmo peso de decolagem, por uma coisa natural, que é a queima do combustível. [...] Você tem um efeito estrutural no trem de pouso, na hora do pouso [antes do previsto]. O avião é desenhado para ter um limite máximo, já para ter margens de segurança. Não que ele não pousasse. Ele pousaria, mas teria que passar por uma inspeção muito maior e uma inspeção estrutural", explicou o instrutor. Boeing operado pela companhia Euroatlantic apresentou problemas técnicos Reprodução/TV Globo O avião que apresentou problema é da companhia portuguesa Euroatlantic, que operava o voo da brasileira Azul Linhas Aéreas. Bimotor a jato, o Boeing 767-300, decolou às 19h52 e passou quase duas horas orbitando sobre o oceano, próximo à costa brasileira, até aterrissar no Aeroporto dos Guararapes, às 21h49. Foram, ao todo, 18 voltas. O instrutor Ralph de Carvalho Ramos disse que, por vezes, os passageiros acreditam que essas manobras são dificuldades de controle do avião, mas isso não procede. "É simplesmente ele voando com segurança, queimando o combustível para fazer o pouso. É o voo mais seguro que pode se ter, porque ele está em casa, ele voltou e vai fazer as verificações, que às vezes são sistemas muito mais complexos, que ele nem precisa, voando na área que ele está voando", afirmou. Ele também explicou que, em casos muito urgentes, como problemas de saúde de passageiros e tripulantes, ou falhas técnicas graves, é possível pousar com segurança mesmo sem ter que queimar combustível. Entretanto, o risco é maior, e o impacto estrutural no avião, também. "Você tem a distância da pista. Se o avião estiver muito pesado, acima do máximo dele, ele não vai frear, vai ter dificuldade, ou vai ter um desgaste muito grande nos sistemas de freio; aquecimento de pneus, também, porque o pneu tem um limite de carga máxima. Então, tudo isso é preservado para fazer um pouso de segurança. Ou seja, o dia segue normal, é mais um dia da aviação", disse. Ainda sobre o descarte de combustível, o instrutor também disse que até mesmo a área em que isso vai ser feito é calculada. "O piloto diz 'puxa, vou levar aqui duas horas girando'. Aí ele solicita uma área, a gente evita alijar todo o combustível, ou a parcela que é necessária, por impacto ambiental. Então ele se desloca. O controlador de voo vai dizer pelo rádio 'olha, tal área, tal setor, você está autorizado a alijar o combustível'. Ele diz quanto tempo de combustível, a equivalência, inclusive, de peso, ele vai alijar e continua queimando. Tudo isso é mensurado, dentro de um padrão normal de segurança", declarou. Passageiros Passageiro relata tensão em voo inaugural do Recife para Madri após avião dar voltar no ar e retornar a aeroporto Passageiros que estavam no voo relataram momentos de tensão desde a decolagem do avião (veja vídeo acima). O professor Dario Brito, por exemplo, disse que percebeu que a aeronave teve dificuldades para ganhar altitude, e que ouvia um barulho como se a aeronave quisesse pegar força, sem conseguir. Até a última atualização desta reportagem, a Azul não informou o porquê de o voo ter retornado. Outros passageiros contaram, ainda, que o avião aparentava ser antigo e tinha problemas para fechar compartimentos de bagagem, além de televisores quebrados, poltronas que não reclinavam e odor forte. A empresária Bia Sodré, que estava dentro do avião junto com o filho, contou que os passageiros só receberam a notícia de que voltariam ao Recife 20 minutos antes de pousar. "Passou quase uma hora, e com um barulho na aeronave", afirmou. Inauguração da rota Recife–Madri A previsão era de que o avião chegasse à Espanha às 8h30 desta quarta-feira (11). Sem informar o problema apresentado pela aeronave, a Aena, empresa que administra o aeroporto, disse que o piloto solicitou retorno após a decolagem e "o pouso transcorreu dentro da normalidade". A Azul também não informou o que resultou na volta da aeronave, e disse que "o pouso e o desembarque dos clientes aconteceram normalmente e em total segurança". VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias